Pescadinha congelada de rabo na boca

Páscoa em Manteigas. Finalmente uns dias de descanso. Parece que ainda há neve na serra e esta temporada ainda não fiz o gosto ao pé. Ora vamos lá à estância dos Piornos, afinal é o mais perto que temos e para quem tem poiso em Manteigas é mesmo simples e económico. Alpes ou Pirinéus são de facto melhores mas a nossa Serra da Estrela acaba por ser, vamos lá, particularmente conveniente.

Hoje de noite ia nevar e nevou. A paisagem de manhã à volta de Manteigas está fantástica, neste Abril supostamente primaveril. Ora neve fresquinha há-de ser bem melhor que a neve artificial que todas as noites permite alargar a temporada de ski e snowboard mais um dia. Ora vamos lá. Pequeno pormenor: as estradas estão bloqueadas, não se consegue atingir a estância. Pode ser que abra mais ao fim da manhã, a seguir ao almoço, afinal não há garantias para hoje... Ora bolas, não há ski para ninguém. Vamos lá despir as calças dos suspensórios :-( . Pode ser que amanhã tenhamos mais sorte...

O que choca nesta situação é que não é raro isto acontecer. Se há neve não há acesso, se há acesso muitas vezes já não há neve. É uma pescadinha de rabo na boca. Congelada.

Ora com tantos planos e, ao que parece, investimentos para tornar a Serra da Estrela num pólo do turismo nacional, não é razoável que se repita com frequência esta frustração para quem visita a Serra. Hoje em dia a oferta hoteleira está a melhorar a olhos vistos, as actividades de aventura já existem e até já se começa a promover a Serra para além da neve (o verão na Serra, no meu entender, é bem mais interessante que o inverno). Um dia destes até Manteigas poderá voltar a acordar. O que não se pode é dar tiros nos pés naquele que é o ex-libris da Serra da Estrela: a neve.

É essencial que o estado faça a sua parte - que trate dos acessos. Comprem mais limpa-neves, reforcem as protecções na beira das estradas, patrulhem mais em dias de nevoeiro, ou avancem de uma vez por todas com o famigerado teleférico. Nada disto é rocket-science, há muitos países com grandes ou pequenas montanhas e um fluxo turístico permanente que gera economias regionais pujantes (ou agora com a crise, vá lá, razoáveis :-) ).

Mas não é só o estado central de Lisboa, têm de ser os Municípios da região,as associações da zona, as pessoas de cá no final de contas. Dizia a minha avó que cada um sabe de si e Deus sabe de todos. Ora eu não sei a prioridade que o todo-poderoso dará a este assunto, mas sei que se as gentes da Serra se mexerem, se coordenarem e com liderança eficaz hão de conseguir resolver estes pequenos-grandes assuntos que são a nódoa na melhor toalha. E afinal é tão mais simples que esburacar a Serra para criar mais acessos, que no final poderiam simplesmente ficar atulhados pela neve nas efemérides em que chegam os turistas.

Tenho dito, amanhã há mais, espero que consiga experimentar as pistas vermelhas ou quiçá, se acordar destemido e as estradas estiverem abertas, a preta!